25 outubro 2015

Chupa-sangue em Nampula [11]

Décimo primeiro número da série. Ora, o chupa-sanguismo mais não foi nem é, em meu entender, do que uma reactualização politizada da crença atrás exposta. Os funcionários governamentais, os forasteiros, etc., eram vistos como akwiri que extraíam, directa ou indirectamente, o bem-estar das comunidades. O sangue (= vida) é a tradução desse bem-estar: a sua punção (= a rarefacção dos bens de consu­mo), é a tradução do mal-estar. A única diferença nesta reac­tualização é que, permitam-me a expressão, o potencial linchatório não é regra geral descarregado sobre aqueles que são consi­derados como os verdadeiros responsáveis da espoliação. Ele é como que desviado para os focos habituais e locais de okwiri (mulheres idosas, forasteiros, etc.).
[História e anatomia da crença no chupa-sangue com base num texto divulgado em 1997 no meu livro Combates pela mentalidade sociológica. Maputo: Universidade Eduardo Mondlane, Livraria Universitária, pp. 68-71.]

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